O debate sobre a eleição presidencial de 2014 começou cedo. Quatro
potenciais candidatos já iniciaram suas articulações de olho na disputa
do próximo ano: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos
(PSB) e Marina Silva (sem partido). A possibilidade do fim da
polarização entre PT e PSDB, aliada à fama de bom articulador do
pré-candidato tucano Aécio Neves e à crescente influência de Eduardo
Campos, deu ainda mais relevância à montagem dos palanques estaduais. Em
cada unidade da federação, as forças em jogo têm um quebra-cabeça para
resolver. E já surgiram os primeiros problemas, especialmente na ampla
base de Dilma.
Hoje, o PSDB governa oito estados; PSB, seis; PMDB, cinco; e o PT,
quatro, além do Distrito Federal. A desordem do quadro partidário
brasileiro se evidencia nos cenários estaduais. Não são poucos os
exemplos de siglas adversárias no plano local e aliadas em âmbito
nacional - ou vice-versa. O quadro de 2014 apresenta desafios distintos
para as diferentes forças em jogo. Na candidatura petista, o problema é a
possível cisão em alguns estados onde há mais de um pré-candidato na
base de apoio de Dilma. Sem a máquina federal nas mãos, os tucanos podem
perder alianças tradicionais nos estados. Enquanto isso, o PSB admite a
dificuldade de construir palanques em todos as regiões do país. Para a "Rede" de Marina Silva, que poderá se configurar como a principal novidade partidária em 2014, o caminho deve ser a independência.
O palanque estadual é importante porque permite ao candidato
presidencial andar lado a lado com lideranças locais que podem lhe
render votos - por serem mais próximos do eleitor, esses políticos
regionais muitas vezes atuam como fiadores do candidato nacional.
Dentro da heterodoxa base da presidente Dilma, os entraves para a
montagem dos palanques são mais evidentes. Os maiores dizem respeito ao
PMDB, o partido do vice-presidente, Michel Temer. O presidente da sigla,
senador Valdir Raupp, cita os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul e Mato Grosso do Sul como os principais problemas para a unificação
das candidaturas na base. "Estamos conversando, tenho certeza de que
vamos chegar a um acerto", diz Raupp.
Estados - Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul têm
histórico de resistência à parceria com o PT - em 2010, o diretório
gaúcho apoiou o tucano José Serra, e o sul-mato-grossense ficou no meio
do caminho.
A situação no Rio de Janeiro é novidade: com um pré-candidato petista, o
senador Lindbergh Farias, e um peemedebista, o vice-governador Luiz
Fernando Pezão, o clima de confronto
tem aumentado e os dois lados não cogitam recuar As pretensões do
petista, que fala abertamente como postulante ao governo e já começou a percorrer o estado,
não são bem recebidas pelo PMDB fluminense. Recentemente, o presidente
da sigla no estado, Jorge Picciani, ameaçou retirar o apoio à reeleição
de Dilma se o PT não apoiar o projeto de Pezão. O clima não é dos
melhores.
Há ainda outras arestas para os peemedebistas resolverem. Em Santa
Catarina, por exemplo, o PMDB apoiou a candidatura do tucano José Serra à
Presidência, em 2010. Coligados, peemedebistas, tucanos e democratas
elegeram o governador Raimundo Colombo e três senadores. Agora, o quadro
mudou: o PMDB se aproximou do PT, e a maior parte dos integrantes do
DEM no estado (inclusive Colombo) passou para o PSD, que deve aderir ao
governo Dilma no plano federal.
Cacique do PMDB catarinense, o senador Luiz Henrique da Silveira tenta
montar uma chapa em que a ministra Ideli Salvatti, potencial candidata
petista ao governo, ficasse com a vaga para o Senado. Raimundo Colombo
disputaria a reeleição, e o candidato a vice seria indicado pelo PMDB. A
proposta tem poucas chances de vingar. Mas, se der certo, empurrará o
PSDB para fora da aliança, com candidato próprio. O PSB, por sua vez,
pode formar uma parceria com o PSD e desfazer a grande aliança. "Nunca o
palanque federal influenciou tanto uma eleição no estado", diz o
ex-governador catarinense e deputado Esperidião Amin (PP) - ele próprio,
aliás, ainda não faz ideia de qual rumo tomará em 2014. Luiz Henrique
não esconde que sonha com a parceria PMDB-PT: "Por um equívoco do PT,
nós apoiamos o Serra na eleição passada. Ele ganhou por 500.000 votos no
estado. Se tivermos esse palanque, a Dilma ganha com mais de 1 milhão
de votos de vantagem", diz.
Na Bahia, o peemedebista Geddel Vieira Lima pretende disputar o governo
em uma aliança com o DEM do prefeito de Salvador, ACM Neto. O PT, ainda
em busca de um nome para a disputa, não nutre esperanças de um acerto
com o PMDB no estado. O senador Walter Pinheiro, possível candidato,
minimiza o impasse: "Num momento até mais delicado, em que a presidente
não tinha o governo, isso não foi motivo de nenhum desconforto", diz
ele, fazendo menção à disputa de 2010. "O PMDB nacional está cada vez
mais integrado ao governo Dilma", diz o petista.
O cenário em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, também pode
pesar: Aécio Neves e o governador tucano Antonio Anastasia mantêm uma
aliança que abarca PR e PP, aliados de Dilma no plano federal, e o
próprio PSB de Eduardo Campos. O PMDB, aliado do PT, ensaia um voo solo
em 2014. Não por acaso, a presidente Dilma Rousseff avalia entregar o
Ministério dos Transportes a um peemedebista de Minas.
PSB - A possibilidade do fim da polarização entre PT e
PSDB no plano nacional pode fazer a diferença na formação de algumas
alianças. O PSB, do governador Eduardo Campos (PE), caminha para lançar
candidatura própria à Presidência.
O PSD, que já nasceu próximo ao PSB, seria um candidato natural à
composição de chapa para consolidar uma terceira via. Mas o partido do
ex-prefeito Gilberto Kassab já começou a formalizar o apoio à reeleição
de Dilma - em troca de um ministério cedido pelo governo justamente como
parte de uma manobra para isolar o PSB. Por isso, os socialistas já
calculam que vão precisar caminhar sozinhos em alguns estados ou apoiar
candidatos de outras siglas.
Rodrigo Rollemberg, líder do PSB no Senado e potencial candidato ao
governo do Distrito Federal, diz que em algumas unidades da federação há
uma tendência natural à candidatura do partido ao governo. Mas há
locais em que a sigla ainda não tem candidaturas viáveis: "Em muitos
lugares, com ou sem candidato a presidente, nós não vamos conseguir ter
candidaturas próprias, vamos fazer alianças", diz Rollemberg - que
pretende disputar o governo do Distrito Federal. Ele diz que há opções à
polarização entre PSDB e PT: "Em Mato Grosso, podemos fazer um palanque
com o Pedro Taques, é perfeitamente possível", diz Rollemberg, em
referência ao senador do PDT, cotado para disputar o governo
mato-grossense.
Marina - Já a Rede, o novo partido de Marina Silva,
ainda luta para obter o registro na Justiça Eleitoral a tempo de
disputar eleições. A sigla é nova, o que traz uma vantagem e uma
desvantagem. Vantagem: como a perspectiva de alianças é pequena, não
custa nada lançar candidatos próprios em cada estado. Desvantagem: há
poucos puxadores de votos para garantir palanques fortes a Marina,
possível candidata à Presidência. Em 2010, o PV não obteve grandes
resultados regionais - mesmo com Marina para puxar votos. O partido não
conseguiu um governo sequer, e também fracassou na tentativa de eleger
um representante no Senado. Até agora, não há sinais de que a Rede terá
um desempenho melhor.FONTE:VEJA.
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